sexta-feira, 27 de maio de 2016

A QUESTÃO TRANSSEXUAL E OS SERIADOS DO NETFLIX

Duas séries do Netflix com destaque tentam dar visibilidade ao mundo "queer" e apresentam personagens fora dos padrões heteronormativos da sociedade ocidental: "Sense8" e "Orange is the New Black". A questão da homossexualidade é bastante explorada nos dois seriados, de uma forma bastante intensa e não estereotipada, mas, a tentativa de retratar o mundo transsexual parece um tanto desastrada.

O perfil do transsexual no mundo ocidental é bastante diferente daquele explorado em ambas as séries. Em geral as mulheres transsexuais(MtF) são na maioria pessoas pobres, sem apoio governamental e da família, discriminadas pela sociedade, e que acabam procurando o meio da prostituição - é uma triste situação, mas, é o retrato da maioria delas. Além do combate contra o nome social pelos grupos funtamentalistas neopentecostais do Congresso Nacional, elas em geral não tem emprego formal e nem curso superior. Vale ressaltar que mesmo entre as mulheres transsexuais e travestis a maioria tem orientação sexual no sentido de gostar de homens masculinos, e, a maioria, ainda com identidade sexual feminina, optam por manter o órgão genital masculino como objeto de prazer.

Mas as séries norte-americanas do Netflix retratam um perfil de transsexual bastante diferente, e a coincidência incomoda: ambas as mulheres transsexuais representam personagens de classe média alta, são operadas e mantém relação afetivo-sexual com mulheres. Ambas nunca se prostituíram tanto na série quanto na vida real, e ambas as atrizes são operadas. É um retrato bastante diferente da maior parte da trans.

Em Sense8, a atriz Jamie Clayton, que esteve recentemente no Brasil, representa a personagem Nomi. De classe média alta, filha de família bem estruturada, hormonizada desde a infância e com apoio da família, desde cedo fez cirurgia de redesignação digital, da mesma forma que a personagem do seriado que possui as mesmas características. No seriado ela namora Amanita, uma lésbica.

Em Orange..., a atriz Laverne Cox representa Sophia Burset, que na série era um homem casado de classe média alta que decidiu se tornar mulher e fez a operação de ressignaçaõ sexual, mas manteve seu desejo pela esposa. No seriado, participa o irmão gêmeo de Laverne, representando o papel de Sophie antes da transformação. Laverne anteriormente já havia ganhado o Emmy (a primeira transsexual a recebê-lo). É formada em Belas Artes (curso superior) em Birmingham, Alabama e também em Escrita Criativa no Marymount Manhattan College de Nova York. Ainda que tenha sofrido pela sua condição de homossexual na infância e tentado suicídio, teve apoio da família.

Existem sim transsexuais notáveis que nunca foram pobres e nem se prostituíram, e hoje são operadas, como Lea T (filha do Toninho Cerezo), a modelo Carol Marra, a modelo Talita Zampirolli (que teve um caso com Romário), a atriz internacional Kim Petras. Mas a maioria das transsexuais e travestis do Brasil não vivem essa vida de glamour e fama. São anônimas, exploradas, não tem emprego, nem curso superior e os índices de suicídio são maiores do que a média nacional: 36%.

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