terça-feira, 4 de agosto de 2015
A importância de um vereador: na prática são péssimos, mas poderiam ajudar a consolidar a democracia
Contraponto: a importância de um vereador. Uma manifestação em relação ao projeto de Eduardo Barison em Mococa.
O vereador Eduardo Barison, de Mococa – SP, certamente um intelectual, pois professor universitário e dentista, propôs que se reduzisse o número de vereadores daquela cidade para 10, sendo que o atual número era 15. A proposta obteve apenas 3 votos favoráveis e 12 votos contrários, sendo que os vereadores favoráveis podem ser o próprio Eduardo Barison, a vereadora Elisângela Masiero e outro do qual desconhecemos, pois, vários vereadores não deram suas opiniões.
A medida foi aplaudida pelo povo, e, certamente, será motivo para elogios ao vereador e provavelmente, mais votos nas próximas eleições.
Sem querer acreditar que seja apenas uma medida demagógica, ou uma ação feita por um vereador que acredita na sua reeleição com menos vagas, tendo a crença de que as intenções do edil foram boas, quero fazer um contraponto, em mensagem que eu fiz para ele em seu Facebook, discordando.
A medida aparentemente positiva, da forma que é divulgada, não contribui com a consolidação da democracia e deseduca, pois, nega as verdades funções do vereador, que são positivas, ainda que na prática, a quase totalidade de vereadores seja péssimo.
O QUE ESCREVI NO FACEBOOK
Eduardo Barison, me desculpe, eu fui vereador em Muzambinho e fui considerado pelo povo o melhor vereador em 4 pesquisas do Instituto Tiradentes. Fui bom vereador e agi de uma forma que era necessária para minha cidade... E eu discordo de medidas como reduzir o número de vereadores, cortar diárias e até mesmo reduzir subsídios. Eu acho que a função de vereador é essencial para consolidação da democracia, o problema, é que as pessoas não sabem ser vereadores! .....
E é por isso que eu defendo SIM, os vereadores precisam ser bem pagos, ter condições de trabalhar, inclusive ter boas diárias, o que estimula bons representantes.... Eu entendo que reduzir o número de representantes é algo necessariamente ruim, pois é menos gente para opinar, para dar palpites... Isso agrada o povo, pois o povo não entende a importância de um vereador, e o vereador também não entende a sua própria importância e acaba agindo muito mal....
Um bom vereador é aquele que é a voz do povo na Tribuna, que fiscaliza os poderes públicos, e faz as reivindicações necessárias.
Um bom vereador é aquele que estuda todos os projetos, e entende MUITO BEM sobre o que está escrito na LDO, na LOA, no PPA, e aprova de acordo com a sua percepção e conselhos de bons assessores, apenas os projetos que acredite serem benéficos para o povo, usando da tribuna e de suas relações com os colegas, de instrumento para controlar o Executivo e seus gastos.
Um bom vereador está sempre informado sobre os gastos públicos, sobre as alterações necessárias na legislação municipal em decorrência da legislação federal e estadual, que acompanha o Plano Diretor e verifica se a fiscalização do Executivo sobre as obras e as posturas públicas estão adequadas com o interesse popular.
Um bom vereador tem uma posição ideológica bem definida e defende essa posição na tribuna, o que favorece ao povo escolher quem ele sabe que o irá defender.....
Como a quase totalidade de vereadores que eu conheço são PÉSSIMOS, e só servem para votar a favor ou contra o prefeito, o que tem que fazer é criar mecanismos para que os vereadores deixem de ser péssimos: aumentar subsídos (atraindo pessoas que jamais teriam interesse em deixar universidades ou gestão de empresas de médio porte para ser vereador), oferecer bons cursos com diária (para dotar os bem intencionados de condições de atuar), aumentar a representação numericamente (com a chance de entrar mais gente boa, e representar menos eleitores) e oferecer assessores qualificados para auxiliar o vereador na análise contábil, jurídica e política dos projetos de Lei.
Desculpe, qualquer medida no sentido contrário, sem pensar na função do vereador: legislar, fiscalizar e representar, para mim, é ou demagógica ou contribui para a função de vereador se tornar cada vez mais inútil.
Não é função do vereador correr atrás de deputados para conseguir verbas e são funções das menos importantes ao vereador dar nomes de rua, oferecer medalhas ou propor emendas pontuais no orçamento.
Desculpe, mas, não vejo nada de positivo em continuar contribuindo com o senso comum popular sobre vereadores. Essa medida, sem a devida explicação para o povo de Mococa, do real sentido do que é um vereador, só contribui para o descrédito do Legislativo e para a sensação de que vereador não é importante.
Que fiquem os 15 vereadores e que pague-se menos na próxima legislatura, seria menos nocivo (ainda nocivo) para a construção de uma verdadeira democracia no Brasil - o que estamos muito longe de atingir.
Otávio Sales
sexta-feira, 26 de junho de 2015
O Cartesiano de Muzambinho, o HC para não prender Lula e o Último Teorema de Fermat
O Cartesiano de Muzambinho que impetrou HC preventivo em favor de Lula,
me ajudou a ter importante vitória jurídica e me apresentou ao Último Teorema de
Fermat
Maurício Ramos
Thomáz, figura mais noticiada em 27 de julho de 2015, por ter entrado com um
pedido de Habeas Corpus para evitar que Lula seja preso na Operação Lava Jato,
é meu conhecido pessoal, e, por cerca de dez anos morou em Muzambinho, minha
cidade natal e onde residi toda vida. Em Muzambinho ele protagonizou seus
principais e iniciais episódios de figura polêmica. A repercussão do simples HC
para Lula se deu pelo fato de que a notícia do mesmo foi dada por Ronaldo
Caiado. Ele foi alvo da crítica de Esquerda e Direito, acusado de tentar ter
seus cinco minutos de fama, de ser um “Napoleão de Hospício” ou de agir por
instrução da oposição, e, nada disso pode ser verdade.
Falo
dele, pois ele é responsável pela redação da maior vitória judicial que eu tive
em Muzambinho, derrotando e humilhando os meus oito outros colegas vereadores
em novembro de 2011 num episódio em que os meus grandes aliados eram apenas as
pessoas simples da cidade e nenhum advogado estava disposto a me defender,
pois, eu havia comprado uma briga com o único juiz da comarca, autodeclarado
suspeito em meus processos. Maurício comprou a minha briga e me defendeu, com
vitória surpreendente.
Maurício,
diferentemente do que se fala, nem tenta aparecer e de maluco é tão maluco
quanto grande parte das figuras da Política, Mídia, Ciência, Esportes, Artes,
etc. Ele não quer se exibir, não tem intenção de ter fama, não quer defender
uma ideologia partidária política e nem tem intenção de fazer algo de bom ou
ruim ao PT, apesar dele ser eleitor e defensor político do PT. Acontece que Maurício
encara o Direito como Ciência Exata, e ele acha insuportável o comportamento de
magistrados em qualquer coisa que fuja às normas. A lógica dele é impecável, de
fato positivista, e o direito para ele é axiomático - e claro, inadequada para
a realidade tanto da safadeza do Poder Judiciário (patente na promiscua ação do
juiz Moro) quanto para um Direito para o bem comum.
Entre
as peripécias de Maurício no judiciário está o pedido de Impeachment de dez dos onze ministros do Supremo Tribunal Federal,
encaminhados ao próprio STF, e, um HC em favor do ultra-conservador direitista
Diego Mainardi, ambas ações sem efeito, mas, dentro da lógica do próprio
Direito, desconsiderando a realidade, precisavam ser acatados.
Maurício
me despertou certo fascínio como personagem quando ele já havia ido embora de
Muzambinho e eu comecei a me interessar e envolver com uma política mais séria
do ponto de vista programático (pois política de eleição de quadros eu já
gostava desde a infância, meu pai foi vereador, vice-prefeito e candidato a
prefeito).
Maurício
tem dois episódios muito interessantes. É verdade que o Maurício soltou várias
pessoas em Guaxupé, inclusive traficantes. Ele foi preso nos anos 90 pela Lei
da Imprensa pois escreveu um texto no Jornal da Região que começava: "Quem
acredita que o concurso da escola agrícola de Muzambinho foi honesta acredita
em Papai Noel, duende e que o Carlos Dozza é um bom promotor". A Anistia
Internacional entrou em defesa dele sem sucesso, mas ele ficou pouco tempo
preso ... No período que esteve na cadeia apreendeu a redigir HC e impetrou 27
pedidos para soltar presidiários e conseguiu soltar 13 pessoas (não sei se os
números são esses, mas, fala-se em algo do tipo aqui pela cidade, o que o
Maurício se recusa em entrar em detalhes, como ele faz com todos os seus casos).
Como ele obteve sucesso com um importante traficante (que nunca lhe falou
sequer obrigado, também, conforme relatam) ele tomou gosto pela coisa, mas sem
interesse de obter gratidão.
Existe um
livro chamado "O Relógio de Pascal" do Caio Túlio Costa, mineiro de
Alfenas, a 70 km de Muzambinho, com um capítulo chamado "O Cartesiano de
Muzambinho" sobre o Maurício, mas o livro tem uns 15 anos já. O
capítulo narra a participação diária de Maurício em missivas para o escritor
quando o mesmo era ombudsman do
jornal “A Folha de S. Paulo”. Já conversei com Maurício sobre esse título de
cartesiano, que ele não apenas rejeita, mas pode lhe atacar de forma extremamente
hábil, defendendo-se com eficácia – de forma cartesiana – de ser um cartesiano.
Tive
vários atritos com Maurício Tomáz em virtude de seu discurso ortodoxo e
positivista, mas o admiro, e, minha mãe sempre diz: “não brigue com o Maurício,
seja grato a ele.”
O interessante
é que em 1995 o Maurício Thomáz (sem nunca ter ouvido falar em Andrew Willes)
era jornaleiro numa banca de Muzambinho e ele me apresentou o Último Teorema de
Fermat (que diz que não existe nenhuma terna do tipo a^n+b^n=c^n com a, b, c e
n inteiros se o n for maior que 2). Disse que quem demonstrasse ficaria rico ou
famoso (essa parte seria verdadeira, se o Teorema já não tivesse sido
demonstrado). Ele me motivou - com 16 anos - a buscar a solução do Teorema, que
fez eu gastar semanas e semanas com vários escritos e rascunhos, e claro, eu
nem imaginava o que era Matematica avançada e nem sabia que o Teorema já tinha
sido demonstrado (pelo menos em tese), mas eu já dava aulas e achei que poderia
me atrever a tentar.
A preocupação
de Maurício com o Último Teorema de Fermat é a mesma que ele tinha com o
Direito. Fazer as coisas seguindo rígidas regras de rigor matemático.
Infelizmente, na justiça, não há espaço para obedecer às regras do próprio
Direito, haja vista a grande quantidade de juízes analfabetos ou mal
intencionados. Claro, não é preciso ser tão rigoroso como Maurício e é possível
fugir um pouco à rigidez da Lei em favor do bem comum, mas o que vemos
ultimamente é um show de horrores, com gente burra (palavra usada por Maurício
numa entrevista sobre uma eventual recusa de Lula ao seu HC). Gente burra no
executivo, no legislativo, no judiciário e na imprensa.
Otávio Luciano Camargo Sales de Magalhães
Professor de
Matemática, mestre pela UNESP de Rio Claro.
Ex-vereador e
presidente da Câmara Municipal de Muzambinho.
Pesquisador de História
de Muzambinho.
quarta-feira, 24 de junho de 2015
O Plano Decenal em Muzambinho - Motivos que a Câmara Municipal não te respeita
O Plano Decenal em
Muzambinho
Falta de respeito com a
população de Muzambinho é ignorar a função nobre do vereador. A Câmara mais uma
vez age sem compromisso com o povo e passará nova vergonha.
Entendo que administrar o município é uma coisa séria, não é brincadeira,
mas, Muzambinho vem demonstrando vergonhosamente um comportamento de completo
descaso com a técnica e com a Lei.
Os
vereadores pensam que podem agir com achismo e acabam fazendo Muzambinho passar
por inúmeros ridículos, pois, desconsideram totalmente a seriedade que tem a
boa técnica legislativa. Isso tem consequências desastrosas para a população
que, com a mesma dificuldade técnica dos vereadores, em nada consegue intervir.
A
transformação do Moçambo em distrito, a mudança no Plano Diretor, a aprovação
da Lei do ISS com previsões de taxas marítimas e metroviárias, são apenas
alguns exemplos do que a pressa e a falta de técnica fazem com nosso município.
Por mais que
eu tenha divergências teóricas com o José Roberto Del Valle, ele garantia um
mínimo de seriedade e boa técnica legislativa naquela casa, impedindo
aberrações legislativas.
Ouso dizer
que os nossos vereadores atuam com desídia, descompromisso com a população de
Muzambinho, pois, não seguem a técnica, não obedecem as normas e aprovam tudo
de sopetão, “a toque de caixa”.
Eu fui
destituído quando fui presidente da Câmara pois tentei fazer a coisa certa,
mas, até agora, os vereadores parecem não entender que legislar não é atuar com
achismo, mas sim, ter um apoio técnico adequado.
O PLANO DECENAL
O único plano decenal, ainda que não tenha sido cumprido em quase nada,
foi elaborado com participação popular ampla, e foi muito bem escrito de forma
técnica. O secretário municipal Marcos Roberto Cândido procurou seguir aspectos
técnicos e fez uma elaboração consistente e bem escrita. Foi aprovado em
dezembro de 2005 e foi fruto de amplas discussões. Além disso, cada meta do
antigo Plano Municipal de Educação foi votada por um grupo de delegados
escolhidos por todos segmentos educacionais do município em uma Conferência
Municipal de Educação, que ocorreu no dia 8.12.2005.
Aliás, o
prazo do antigo Plano Decenal era 2003, e, municípios da região ainda não
tinham o aprovado em 2009!
O atual
plano, feito por pequenas comissões e com pouca participação, sem a divulgação
devida, para cumprir o celeríssimo prazo de 1 ano dado pelo art. 8º da Lei
13.005 de 25 de junho de 2014, o Plano Nacional de Educação. Diz-se que se não
for cumprido o prazo, o município perderá verbas, o que não encontra fundamento
algum na legislação.
O texto foi
enviado para a casa legislativa para ser aprovado em regime de urgência
urgentíssima, e, sem qualquer revisão que respeite a boa técnica legislativa,
será aprovado um plano com péssima técnica legislativa.
A pressa em
cumprir o prazo significa não cumprir prazo algum, ridicularizar o município e
demonstrar descaso com a Educação. Aprovar um plano assim significa deixar o
município desguarnecido.
Eu duvido
que mais de 50 municípois (1%) cumpram tal prazo.
ALGUNS PROBLEMAS DE
REDAÇÃO
Lendo o Anexo de metas em mais ou menos vinte minutos, encontrei uma
série de erros, que compartilhei em Audiência Pública realizada em 24 de junho
de 2015, duas horas e meia antes da votação para aprovação do plano pela
Câmara.
Fiz um
discurso de dez minutos mostrando os problemas de técnica legislativa e
apontando o absurdo e os prejuízos da aprovação de tal plano. Simplesmente,
após tudo que eu expliquei e mostrei, o vereador Lucas Otávio Machado
simplesmente ignorou a minha fala e insistiu naquele texto, demonstrando sua
posição firme de vereador da situação que sempre foi.
Veja alguns
exemplos:
1.
O
anexo trata de questões que em tese gerariam direitos pecuniários aos
professores da rede municipal, como as metas 16, 17 e 18, porém, sem fazer
qualquer estimativa de impacto financeiro e orçamentário, o que fere a Lei de
Responsabilidade Fiscal. Seria necessário ajuste na redação.
2.
As
metas desconsideram que o Plano não é apenas para professores da rede
municipal, mas para toda a rede, e, incluem terminologia própria da rede
estadual, como “alteração de lotação” (meta 21), que demonstra desconhecimento
da própria terminologia utilizada na legislação municipal.
3.
A
redação da meta 19 sugere que os profissionais da educação infantil que não são
docentes deveriam cursar pedagogia e especialização. A intenção é boa, mas a
forma que o texto é redigido parece ter caráter impositivo.
4.
Entre
as metas há questões discricionárias do administrador, que jamais poderiam ser
incluídas, como as metas 21 (organização de quadro de profissionais), 23
(perfil e avaliação) e 49 (posturas behavioristas).
5.
A
meta 25 fala em um censo educacional das crianças fora da escola. Ocorre que
tal mapeamento já existe e deveria constar do próprio texto do Plano.
6.
A
meta 30 fala de regular a forma de contabilização dos recursos do FUNDEB,
matéria prevista na Constituição Federal, pela Emenda Constitucional 53, e, com
vigência até 2020. Seria impossível fazer tal meta, pois, fere a constituição,
e obrigaria a rejeição terminativa da meta na Comissão de Legislação, Justiça e
Redação da casa.
7.
A
meta 41 usa indevidamente o termo “habilitação”, o que pode gerar confusão.
8.
A
meta 51 fala de parcerias com o INSTITUTO FEDERAL DE MINAS GERAIS – IFMG, com
sede em Belo Horizonte, e não o INSTITUTO FEDERAL SUL DE MINAS – IFSULDEMINAS,
o que mostra falta de bom senso.
9.
A
meta 55 fala em transparência da aplicação de recursos financeiros, porém, essa
transparência já existe e tudo é publicado no site oficial da Prefeitura
Municipal, bem como no site do FNDE. Aliás, o nível de transparência de
Muzambinho é altíssimo, cumprindo a legislação federal.
10. A meta 57 diz que o PDE deverá ser
incluído no Plano Plurianual, o que demonstra total ignorância do que é o Plano
Plurianual (PPA), uma lei orçamentária prevista na Lei de Responsabilidade
Fiscal.
11. Usam-se termos impróprios para a
legislação como siglas criadas apenas no âmbito municipal (CEMEI, meta 1),
projetos criados por legislação infralegal (PNAIC, meta 11), termos casuais
(Ensino Fundamental I, meta 59).
12. A meta mais mal escrita é a 32: “Universalizar o ensino da língua brasileira
de sinais e/ou libras para os alunos surdos ou cegos e sempre que possível aos
seus familiares”. Primeiro que LIBRAS é a sigla de Língua Brasileira de
Sinais, não fazendo sentido falar de e/ou. Segundo que como vai ensinar LIBRAS
para cegos, sendo que é uma linguagem estritamente visual (como os cegos irão
enxergar?).
Pelo mínimo de respeito, apenas uma
dessas observações exigiriam dos vereadores adiar a votação e não aprova-la em
urgência urgentíssima com todos esses problemas de redação.
Sinto-me decepcionado com a falta de
responsabilidade com a função de vereador de nossos edis, e dos responsáveis
pela redação de Leis na prefeitura. Administrar não é brincadeira, é coisa
séria, e nossos representantes não estão fazendo isso bem-feito.
Vão novamente passar ridículo e
envergonhar o nosso município.
Otávio Luciano Camargo
Sales de Magalhães
Os vereadores teriam a
responsabilidade moral de passar esse texto por uma revisão de redação, em
respeito à educação, em respeito ao seu cargo público. Um texto não pode ser
aprovado sem ampla análise. O processo legislativo não pode ter um rito sumário
sumaríssimo.
terça-feira, 7 de abril de 2015
Por que a atual legislatura da Câmara Municipal não é melhor que a anterior
Por que a atual
legislatura da Câmara Municipal não é melhor que a anterior
Vira e mexe eu escuto que “essa Câmara não pode ser igual a outra”, na
referência da comparação da legislatura anterior (a 16ª) com a atual (a 17ª).
Alguns vereadores advogam que a anterior era melhor e alguns dizem que está é
melhor ou ainda será.
Vou tentar
ser didático e explicar algumas coisas que parece fugir ao conhecimento dos
nossos edis.
1) O Legislativo precisa representar todas formas de pensamento e ideologias
políticas.
O Poder Legislativo não é a
maçonaria, não é uma Academia de Letras, não é um clube de amigos. O Poder Legislativo
é a ressonância das diversas formas de pensamento possíveis, é um lugar onde
precisam ter pensamentos majoritários e minoritários.
Se todos os políticos pensarem de
forma igual, não representarão a sociedade, mas apenas alguns segmentos da
sociedade. Não é um local para todos concordarem entre si, mas sim, para que
possam discordar e buscar justiça.
O vereador é o caminho mais curto
para que o cidadão possa expor sua voz, para que possa combater a opressão e a
injustiça.
O Laerte Simões disse – até com certa
prudência e elegância – que a Silene é
apolítica, e, por ser assim, ela não é fascista. Ora, com todo respeito às
considerações do advogado, não existe ninguém apolítico. Ela tenta pregar uma
unidade ideológica, e, faz isso de boa fé. Mas a ideologia dela é uma ideologia
conservadora, da qual eu discordo e muitos também.
Acho que precisam de conservadores
como a Silene da Casa de Leis, que é uma conservadora honesta. Acho até mesmo
aceitável um Jair Bolsonaro ser deputado, pois, apesar de que eu o repudie, ele
representa o pensamento de uma parte do povo e fala (porque pode falar). Mas
precisamos de vozes destoantes da esquerda, e de representantes dos vários
setores da sociedade.
2) Se há injustiça precisa ter conflito.
Como fazer cessar a injustiça se não
pela discordância. Como acabar com a injustiça com o silêncio?
Mas existem grupos de interesses
conflitantes, e, se existem esse conflito na sociedade, as “lides” precisam se
reproduzir no parlamento. Se não reproduzirem, não há democracia.
“Todos unidos” só existe nos regimes
autoritários: a democracia é discordar.
Ora, para acabar a Escravidão nos
Estados Unidos houve até assassinato de parlamentares (a mando de outros) para
evitar a mudança de uma situação tida como normal. Era considerado natural.
Ainda existem muitos absurdos, até
mesmo em Muzambinho, e, como cerrá-los sem vozes dissonantes? Como acabar com a
opressão que existe nessa cidade sem alguém para berrar? Precisamos sim, de
pessoas que denuncie o abuso, a opressão, aqueles que usam de sua reputação
para passar a perna em outrem. E como fazer isso sem entrar em conflito verbal?
Impossível!
3) Ter ou não ter atritos físicos não altera a qualidade do Parlamento para
o bem ou para o mal
Muito se fala da guarda-chuvada que
eu dei no meu colega Márcio Dias – e logo nos entendemos sobre a questão. E
agora fala-se dos atritos entre o Cristiano e o Canarinho.
Simplesmente com briga ou sem briga
em nada isso altera a qualidade do poder legislativo. É um absurdo dizer que
uma briga, ainda se fosse fatal, destruiria todo o trabalho de um Poder. Pior
ainda: dizer que a falta de brigas no poder legislativo faz aquela Casa de Leis
uma boa instituição.
Vou enfatizar o que escrevi: não ter
briga na Câmara Municipal não faz aquela Casa de Leis uma câmara melhor. E isso
é óbvio. Para não ter briga basta eles fecharem as portas e não aparecerem por
lá nunca.
E quem trabalha pouco dificilmente
brigará.
Além disso, falam que eu dei uma
guarda-chuvadas em meu colega e esquecem que o filho de um vereador, que também
foi presidente da Câmara, me entocaiou com mais dois na rua e bateu em mim e em
minha namorada, me roubando itens de considerável valor. E nenhuma justiça foi
feita, até mesmo pela falência dos poderes instituídos nessa cidade.
Essa é uma injustiça que precisam
gritar e não gritam. Não gritam pois o
discurso ingênuo, extremista e conservador de Nilson Bortolotti fala em “Câmara
Ordeira”.
4) O vereador não é obrigado a ser um expert,
mas é obrigado a ter um expert a seu
serviço.
As barbaridades que cometi no Poder Legislativo
foi a falta de uma assessoria competente.
Não estou dizendo que aqueles
assessores que lá estavam eram ruins. Estou dizendo que carecia de alguns
cargos, que tentei criar, e a demagogia os suspendeu.
Eu, com toda minha bagagem cultural –
bem maior do que a maioria dos meus colegas – entrei naquela casa achando que
entendia muito e descobri que não sabia de nada. E fui aprendendo na prática,
estudando, e refletindo sobre a prática.
Ser vereador, eu descobri vivendo
isso, é bem mais complicado do que parece. E fui um bom vereador – o que é difícil
demais de ser entendido, principalmente por quem tem em mente uma série de
preconceitos do que seria um vereador.
No começo tive a ajuda do José
Roberto Del Valle, que, apesar de alguns erros, sabia o que era ser um
vereador. Ele me ensinou muito, e eu tinha muitas certezas que ele demoliu.
Claro que ele se enganava, mas ele sabia mais do que eu.
Mas o Jose Roberto era um só, e tinha
um lado político. Era preciso de outra opinião para contradita-lo. E era
preciso de assessores que falassem de outras temáticas contábeis, de
engenharia, de logística, etc.
O João Pezão fala que é contra criar
cargos, mas, ele mesmo necessita de uma assessoria para não falar tantas coisas
imprecisas com tanta convicção. Acredito que ele tem potencial e age de boa fé.
Quando me falam que ele tem boa fé,
eu digo que estão enganados. Ele tem boa fé sim, só não tem assessoria que o
oriente. Ele precisava.
Sem assessor, um vereador não tem
como exercer seu múnus público, e comete
estelionato ao aceitar seu subsídio de R$ 2.700,00 para exercer algo que faz
sem qualquer condição ou preparo.
A Constitução de 1988 deu status de unidade federativa ao
município, e o vereador é uma autoridade poderosíssima, e, por isso, é bem
pago. Mas como pagar alguém que não sabe o que está fazendo?
O que vejo é um desperdício de R$
2.700,00 por vereador, pois, eles não sabem o que estão fazendo lá.
Mas eles não tem obrigação de ter um
preparo escolar. O vereador não precisa ter curso superior, a Constituição
exige apenas que ele saiba ler e escrever. Isso não quer dizer que o vereador
possa agir como alguém age numa profissão onde se exige apenas ler e escrever.
A edilidade é cargo de altíssima
relevância. Aquele que é vereador e não sabe o que está fazendo está sendo
irresponsável com a democracia, com o Estado de Direito. Ele precisa ter um
assessor de sua confiança – competente e bem pago - que o oriente a trabalhar, e que faça valer a
pena os R$ 2.700,00 que recebe.
Mas os vereadores sequer sabem que a
Constituição Federal deu tal status ao município. Aliás, mal eles sabem o que é
a Constituição. É honesto trabalhar assim? Com achismos?
Eu questionei o presidente sobre o
ABSURDO de ter transformado o Moçambo em distrito – que acaba por desmoralizar
o próprio conceito de distrito – e o presidente me disse: “quem manda na sua
casa? Eles lá do Moçambo queriam!”. Vocês percebem o tipo de comparação que
esses edis fazem? Qualquer um que tenha assistido duas aulas de Direito saberia
contradizer a fase dele, e com muitos argumentos (inclusive o adicional
argumento de que os moradores do Moçambo não queriam nada! Eles disseram que queriam
pois foram persuadidos a querer, sobre o falso argumento de que isso seria
bom).
5) A função do Poder Legislativo é legislar, fiscalizar e representar o
povo.
Um bom poder legislativo é aquele que
cumpre as funções que lhe são atribuídas para a Constituição Federal.
Sim, há outras funções desse poder,
atribuídas na legislação infra-constitucional, como, dar medalhas, conceder
títulos de cidadania honorária e homenagear as mulheres trabalhadoras. Ou ainda
fazer indicações e mandar moções de parabéns ou pesar. Mas essas não são as
funções próprias daquele poder, pois, tudo isso, pode ser feito – como é feito –
pela Academia de Letras.
A função deles é legislar e
fiscalizar, e, por axioma, representar o povo. E atual Câmara – apesar de mais
ordeira – faz isso muito mal. E não
demonstram ter noção de como fazer isso.
Sobre FISCALIZAR, na outra Câmara foi dada publicidade para as
irregularidades do Poder Executivo, foram feitas várias denúncias ao Ministério
Público, e a tribuna serviu para atacar os abusos cometidos por autoridades (e
não fui o único). Essa Câmara, ao contrário, dificultou o acesso dos vereadores
aos balancetes, dificultou a fiscalização em época de transparência.
Sobre LEGISLAR, a outra Câmara reunia as comissões (essa não reúne),
tinha relatores nos projetos (essa não tem), debatia os projetos durante a
votação (essa não debate), e havia o contraditório para cada projeto (essa
raramente faz isso bem feito). Além disso, para cada projeto havia ampla
pesquisa. Claro, houve exceções. Essa Câmara embaraçou até a formas de fazer
indicações!
Mais do que isso, um festival de
projetos cômicos ou inúteis, como “dia do peixe”, meses azul e rosa (nem sei
quais), “adote uma árvore” e “expresso Barbosa” tramitaram naquela Casa. Não
posso dizer que isso não exista em outras instâncias, no Congresso Nacional há
um projeto de Lei que institui o “dia do samurai”, e eu mesmo fiz projetos que
foram motivo de piadas, como os meus votos de pesar ao Michael Jackson, mas fiz
coisas úteis também.
Sobre REPRESENTAR não tem nem comparação. Na outra Câmara os vereadores
apareciam por lá quase todos os dias. O Márcio Dias e o Gilmar Labanca davam
longos expedientes, muitas vezes de período integral. Eu também. E levamos
nossos projetos lá para dentro. Quantas vezes o Gilmar reuniu com as
comunidades rurais lá dentro da Câmara, para incentivar seus projetos! E as
milhares de pessoas atendidas pelo Márcio, e os estudantes que eu ajudei pelo
Projeto Athenas.
Essa Câmara simplesmente instituiu 2
horas de almoço e vá lá: ninguém está lá! E tem vereador que tem orgulho de
dizer que não vai lá. Que tipo de representação eles fazem?
6) Regimento Interno
Nessa Câmara o Regimento Interno foi
abolido. Mas não digo sobre formalidades, como uso das palavras.
O Regimento Interno foi abolido das
coisas sérias: o processo legislativo! A forma da discussão e votação é tão mal
feita que qualquer cidadão poderia, via Ação Popular, anular a maioria das leis
aprovadas naquela casa.
Não só isso. Situações absurdas
acontecem. Dois exemplos: (a) quando o presidente apresenta requerimentos e
indicações ele manda para o vice-presidente da Câmara!!! Ele confunde
absolutamente tudo! O vice-presidente não tem qualquer competência para receber
um requerimento, só poderá fazer isso quando estiver na presidência! Os
requerimentos SEMPRE precisam ser endereçados ao presidente, pois apenas ele
tem competência de recebê-los! É óbvio. Não é possível que eles ainda cometam
esse tipo de ridículo! Isso é falta de mais assessores para notar esses “detalhes”.
Outra coisa. (b) No dia da Mulher
Trabalhadora não tinha o nome do Nilson Bortolotti nos convites! E em todo
momento eu via: “fulana de tal, homenageada pelo vereador tal”. Isso é a prova
cabal insofismável da desinformação. Quem homenageia a Mulher Trabalhadora não
é o vereador, é o povo de Muzambinho em nome da Câmara Municipal. Pode dizer
que A CÂMARA MUNICIPAL HOMENAGEIA FULANA DE TAL, INDICADA PELO VEREADOR TAL.
Aliás, seria uma violência com os
cofres públicos custear a homenagem para uma pessoa feita por um vereador. Quem
homenageia é o Poder Legislativo em nome do povo. E como podem deixar de
constar o nome do Nilson Bortolotti (e do João Pezão em outra ocasião)? Não
podem!
Questiono
até se é lícito divulgar o nome de quem indicou, tendo em vista que as
proposições de honrarias são colocadas em envelopes lacrados. Poderiam ter a
discrição como fizeram quando recebi o Título de Cidadania Honorária: quem me
entregou o diploma foi o vereador Luizinho Dentista, pois, eu fui indicado por
ele, mas, em nenhum momento foi dito que eu fui indicado por ele, e muito
menos, homenageado por ele.
Concluindo
Essa Câmara realmente acredita que vai bem. Mas falta saber o que eles
fazem por lá. Eles possuem boa fé, mas, não sabem o que fazem por lá.
Espero que
encarem com sabedoria e auto-crítica. Espero que se forem atacar a minha
opinião, que ataquem a minha opinião, e não minha vida particular ou coisas
desconexas com esse texto.
Também peço
cuidado quando forem me atacar para saberem pelo menos quase o mesmo tanto que
eu sobre as funções e o papel do vereador.
Prof. Otávio Sales
Vereador na 16ª Legislatura
(2009-2012)
Assinar:
Postagens (Atom)