Por que a atual
legislatura da Câmara Municipal não é melhor que a anterior
Vira e mexe eu escuto que “essa Câmara não pode ser igual a outra”, na
referência da comparação da legislatura anterior (a 16ª) com a atual (a 17ª).
Alguns vereadores advogam que a anterior era melhor e alguns dizem que está é
melhor ou ainda será.
Vou tentar
ser didático e explicar algumas coisas que parece fugir ao conhecimento dos
nossos edis.
1) O Legislativo precisa representar todas formas de pensamento e ideologias
políticas.
O Poder Legislativo não é a
maçonaria, não é uma Academia de Letras, não é um clube de amigos. O Poder Legislativo
é a ressonância das diversas formas de pensamento possíveis, é um lugar onde
precisam ter pensamentos majoritários e minoritários.
Se todos os políticos pensarem de
forma igual, não representarão a sociedade, mas apenas alguns segmentos da
sociedade. Não é um local para todos concordarem entre si, mas sim, para que
possam discordar e buscar justiça.
O vereador é o caminho mais curto
para que o cidadão possa expor sua voz, para que possa combater a opressão e a
injustiça.
O Laerte Simões disse – até com certa
prudência e elegância – que a Silene é
apolítica, e, por ser assim, ela não é fascista. Ora, com todo respeito às
considerações do advogado, não existe ninguém apolítico. Ela tenta pregar uma
unidade ideológica, e, faz isso de boa fé. Mas a ideologia dela é uma ideologia
conservadora, da qual eu discordo e muitos também.
Acho que precisam de conservadores
como a Silene da Casa de Leis, que é uma conservadora honesta. Acho até mesmo
aceitável um Jair Bolsonaro ser deputado, pois, apesar de que eu o repudie, ele
representa o pensamento de uma parte do povo e fala (porque pode falar). Mas
precisamos de vozes destoantes da esquerda, e de representantes dos vários
setores da sociedade.
2) Se há injustiça precisa ter conflito.
Como fazer cessar a injustiça se não
pela discordância. Como acabar com a injustiça com o silêncio?
Mas existem grupos de interesses
conflitantes, e, se existem esse conflito na sociedade, as “lides” precisam se
reproduzir no parlamento. Se não reproduzirem, não há democracia.
“Todos unidos” só existe nos regimes
autoritários: a democracia é discordar.
Ora, para acabar a Escravidão nos
Estados Unidos houve até assassinato de parlamentares (a mando de outros) para
evitar a mudança de uma situação tida como normal. Era considerado natural.
Ainda existem muitos absurdos, até
mesmo em Muzambinho, e, como cerrá-los sem vozes dissonantes? Como acabar com a
opressão que existe nessa cidade sem alguém para berrar? Precisamos sim, de
pessoas que denuncie o abuso, a opressão, aqueles que usam de sua reputação
para passar a perna em outrem. E como fazer isso sem entrar em conflito verbal?
Impossível!
3) Ter ou não ter atritos físicos não altera a qualidade do Parlamento para
o bem ou para o mal
Muito se fala da guarda-chuvada que
eu dei no meu colega Márcio Dias – e logo nos entendemos sobre a questão. E
agora fala-se dos atritos entre o Cristiano e o Canarinho.
Simplesmente com briga ou sem briga
em nada isso altera a qualidade do poder legislativo. É um absurdo dizer que
uma briga, ainda se fosse fatal, destruiria todo o trabalho de um Poder. Pior
ainda: dizer que a falta de brigas no poder legislativo faz aquela Casa de Leis
uma boa instituição.
Vou enfatizar o que escrevi: não ter
briga na Câmara Municipal não faz aquela Casa de Leis uma câmara melhor. E isso
é óbvio. Para não ter briga basta eles fecharem as portas e não aparecerem por
lá nunca.
E quem trabalha pouco dificilmente
brigará.
Além disso, falam que eu dei uma
guarda-chuvadas em meu colega e esquecem que o filho de um vereador, que também
foi presidente da Câmara, me entocaiou com mais dois na rua e bateu em mim e em
minha namorada, me roubando itens de considerável valor. E nenhuma justiça foi
feita, até mesmo pela falência dos poderes instituídos nessa cidade.
Essa é uma injustiça que precisam
gritar e não gritam. Não gritam pois o
discurso ingênuo, extremista e conservador de Nilson Bortolotti fala em “Câmara
Ordeira”.
4) O vereador não é obrigado a ser um expert,
mas é obrigado a ter um expert a seu
serviço.
As barbaridades que cometi no Poder Legislativo
foi a falta de uma assessoria competente.
Não estou dizendo que aqueles
assessores que lá estavam eram ruins. Estou dizendo que carecia de alguns
cargos, que tentei criar, e a demagogia os suspendeu.
Eu, com toda minha bagagem cultural –
bem maior do que a maioria dos meus colegas – entrei naquela casa achando que
entendia muito e descobri que não sabia de nada. E fui aprendendo na prática,
estudando, e refletindo sobre a prática.
Ser vereador, eu descobri vivendo
isso, é bem mais complicado do que parece. E fui um bom vereador – o que é difícil
demais de ser entendido, principalmente por quem tem em mente uma série de
preconceitos do que seria um vereador.
No começo tive a ajuda do José
Roberto Del Valle, que, apesar de alguns erros, sabia o que era ser um
vereador. Ele me ensinou muito, e eu tinha muitas certezas que ele demoliu.
Claro que ele se enganava, mas ele sabia mais do que eu.
Mas o Jose Roberto era um só, e tinha
um lado político. Era preciso de outra opinião para contradita-lo. E era
preciso de assessores que falassem de outras temáticas contábeis, de
engenharia, de logística, etc.
O João Pezão fala que é contra criar
cargos, mas, ele mesmo necessita de uma assessoria para não falar tantas coisas
imprecisas com tanta convicção. Acredito que ele tem potencial e age de boa fé.
Quando me falam que ele tem boa fé,
eu digo que estão enganados. Ele tem boa fé sim, só não tem assessoria que o
oriente. Ele precisava.
Sem assessor, um vereador não tem
como exercer seu múnus público, e comete
estelionato ao aceitar seu subsídio de R$ 2.700,00 para exercer algo que faz
sem qualquer condição ou preparo.
A Constitução de 1988 deu status de unidade federativa ao
município, e o vereador é uma autoridade poderosíssima, e, por isso, é bem
pago. Mas como pagar alguém que não sabe o que está fazendo?
O que vejo é um desperdício de R$
2.700,00 por vereador, pois, eles não sabem o que estão fazendo lá.
Mas eles não tem obrigação de ter um
preparo escolar. O vereador não precisa ter curso superior, a Constituição
exige apenas que ele saiba ler e escrever. Isso não quer dizer que o vereador
possa agir como alguém age numa profissão onde se exige apenas ler e escrever.
A edilidade é cargo de altíssima
relevância. Aquele que é vereador e não sabe o que está fazendo está sendo
irresponsável com a democracia, com o Estado de Direito. Ele precisa ter um
assessor de sua confiança – competente e bem pago - que o oriente a trabalhar, e que faça valer a
pena os R$ 2.700,00 que recebe.
Mas os vereadores sequer sabem que a
Constituição Federal deu tal status ao município. Aliás, mal eles sabem o que é
a Constituição. É honesto trabalhar assim? Com achismos?
Eu questionei o presidente sobre o
ABSURDO de ter transformado o Moçambo em distrito – que acaba por desmoralizar
o próprio conceito de distrito – e o presidente me disse: “quem manda na sua
casa? Eles lá do Moçambo queriam!”. Vocês percebem o tipo de comparação que
esses edis fazem? Qualquer um que tenha assistido duas aulas de Direito saberia
contradizer a fase dele, e com muitos argumentos (inclusive o adicional
argumento de que os moradores do Moçambo não queriam nada! Eles disseram que queriam
pois foram persuadidos a querer, sobre o falso argumento de que isso seria
bom).
5) A função do Poder Legislativo é legislar, fiscalizar e representar o
povo.
Um bom poder legislativo é aquele que
cumpre as funções que lhe são atribuídas para a Constituição Federal.
Sim, há outras funções desse poder,
atribuídas na legislação infra-constitucional, como, dar medalhas, conceder
títulos de cidadania honorária e homenagear as mulheres trabalhadoras. Ou ainda
fazer indicações e mandar moções de parabéns ou pesar. Mas essas não são as
funções próprias daquele poder, pois, tudo isso, pode ser feito – como é feito –
pela Academia de Letras.
A função deles é legislar e
fiscalizar, e, por axioma, representar o povo. E atual Câmara – apesar de mais
ordeira – faz isso muito mal. E não
demonstram ter noção de como fazer isso.
Sobre FISCALIZAR, na outra Câmara foi dada publicidade para as
irregularidades do Poder Executivo, foram feitas várias denúncias ao Ministério
Público, e a tribuna serviu para atacar os abusos cometidos por autoridades (e
não fui o único). Essa Câmara, ao contrário, dificultou o acesso dos vereadores
aos balancetes, dificultou a fiscalização em época de transparência.
Sobre LEGISLAR, a outra Câmara reunia as comissões (essa não reúne),
tinha relatores nos projetos (essa não tem), debatia os projetos durante a
votação (essa não debate), e havia o contraditório para cada projeto (essa
raramente faz isso bem feito). Além disso, para cada projeto havia ampla
pesquisa. Claro, houve exceções. Essa Câmara embaraçou até a formas de fazer
indicações!
Mais do que isso, um festival de
projetos cômicos ou inúteis, como “dia do peixe”, meses azul e rosa (nem sei
quais), “adote uma árvore” e “expresso Barbosa” tramitaram naquela Casa. Não
posso dizer que isso não exista em outras instâncias, no Congresso Nacional há
um projeto de Lei que institui o “dia do samurai”, e eu mesmo fiz projetos que
foram motivo de piadas, como os meus votos de pesar ao Michael Jackson, mas fiz
coisas úteis também.
Sobre REPRESENTAR não tem nem comparação. Na outra Câmara os vereadores
apareciam por lá quase todos os dias. O Márcio Dias e o Gilmar Labanca davam
longos expedientes, muitas vezes de período integral. Eu também. E levamos
nossos projetos lá para dentro. Quantas vezes o Gilmar reuniu com as
comunidades rurais lá dentro da Câmara, para incentivar seus projetos! E as
milhares de pessoas atendidas pelo Márcio, e os estudantes que eu ajudei pelo
Projeto Athenas.
Essa Câmara simplesmente instituiu 2
horas de almoço e vá lá: ninguém está lá! E tem vereador que tem orgulho de
dizer que não vai lá. Que tipo de representação eles fazem?
6) Regimento Interno
Nessa Câmara o Regimento Interno foi
abolido. Mas não digo sobre formalidades, como uso das palavras.
O Regimento Interno foi abolido das
coisas sérias: o processo legislativo! A forma da discussão e votação é tão mal
feita que qualquer cidadão poderia, via Ação Popular, anular a maioria das leis
aprovadas naquela casa.
Não só isso. Situações absurdas
acontecem. Dois exemplos: (a) quando o presidente apresenta requerimentos e
indicações ele manda para o vice-presidente da Câmara!!! Ele confunde
absolutamente tudo! O vice-presidente não tem qualquer competência para receber
um requerimento, só poderá fazer isso quando estiver na presidência! Os
requerimentos SEMPRE precisam ser endereçados ao presidente, pois apenas ele
tem competência de recebê-los! É óbvio. Não é possível que eles ainda cometam
esse tipo de ridículo! Isso é falta de mais assessores para notar esses “detalhes”.
Outra coisa. (b) No dia da Mulher
Trabalhadora não tinha o nome do Nilson Bortolotti nos convites! E em todo
momento eu via: “fulana de tal, homenageada pelo vereador tal”. Isso é a prova
cabal insofismável da desinformação. Quem homenageia a Mulher Trabalhadora não
é o vereador, é o povo de Muzambinho em nome da Câmara Municipal. Pode dizer
que A CÂMARA MUNICIPAL HOMENAGEIA FULANA DE TAL, INDICADA PELO VEREADOR TAL.
Aliás, seria uma violência com os
cofres públicos custear a homenagem para uma pessoa feita por um vereador. Quem
homenageia é o Poder Legislativo em nome do povo. E como podem deixar de
constar o nome do Nilson Bortolotti (e do João Pezão em outra ocasião)? Não
podem!
Questiono
até se é lícito divulgar o nome de quem indicou, tendo em vista que as
proposições de honrarias são colocadas em envelopes lacrados. Poderiam ter a
discrição como fizeram quando recebi o Título de Cidadania Honorária: quem me
entregou o diploma foi o vereador Luizinho Dentista, pois, eu fui indicado por
ele, mas, em nenhum momento foi dito que eu fui indicado por ele, e muito
menos, homenageado por ele.
Concluindo
Essa Câmara realmente acredita que vai bem. Mas falta saber o que eles
fazem por lá. Eles possuem boa fé, mas, não sabem o que fazem por lá.
Espero que
encarem com sabedoria e auto-crítica. Espero que se forem atacar a minha
opinião, que ataquem a minha opinião, e não minha vida particular ou coisas
desconexas com esse texto.
Também peço
cuidado quando forem me atacar para saberem pelo menos quase o mesmo tanto que
eu sobre as funções e o papel do vereador.
Prof. Otávio Sales
Vereador na 16ª Legislatura
(2009-2012)